quarta-feira, 9 de junho de 2021

O problema, NOAH ELI GORDON

 


O PROBLEMA           

Eu caminho para dentro do deserto árido. Existem muitas maneiras de começar. Por exemplo, como se não tivesse certeza dos instrumentos, uma mosca calcula mal sua decolagem para fora  da moita de sujeira no peitoril da janela. Eu entro no deserto como se numa ideia de desertos. Isto também é um começo. Uma garota apontando para um avestruz insiste que é alguma outra coisa. "Isso não é real", ela repete duas vezes para um adulto olhando para outro lugar. Nossa mosca ronda a superfície de uma laranja no balcão da cozinha. Uma ideia também tem uma superfície, uma casca. Claro que está quente aqui fora. Após uma inspeção mais cuidadosa, há listras de amarelo-esverdeado no exterior corrugado da laranja. Um avestruz não enterra sua cabeça na areia; ele coloca seu pescoço rente ao chão de modo a parecer um monte de terra à distância. Que fatos sejam inumeráveis não é o problema. Que tendamos a olhar para outro lugar é.


...

The Problem  

I walk into the arid desert. There are so many ways to begin. For example, as though unsure of the instruments, a fly bungles its liftoff from the windowsill’s thicket of dust.
I walk into the desert as into an idea of deserts. This, too, is a beginning. A girl pointing toward an ostrich insists that it’s something else. “That ain’t real,” she repeats twice
to an adult looking elsewhere. Our fly rounds the surface of an orange on the kitchen counter. An idea, too, has a surface, a skin. Of course it’s hot out here. Upon closer
inspection, there are streaks of greenish-yellow on the orange’s corrugated exterior. An ostrich does not bury its head in the sand; it lays its neck flat to the ground so as to appear from a distance like a mound of earth. That facts are innumerable is not the problem. That we tend to look elsewhere is.


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